Agroecologia: Produção e Consumo na Baixada Fluminense

O Programa Campo e Cidade se dando as mãos surgiu a partir de um sonho antigo da Rede Ecológica, de incentivar a formação de grupos populares de consumidores.
Várias tentativas já haviam sido feitas, até que em final de 2016, quando a Rede Ecológica completou 15 anos, surgiu a proposta de fazer um projeto autogestionário, arrecadando fundos entre os cestantes, para apoiar a formação de grupos de consumo populares na Baixada Fluminense, que comprassem diretamente de assentamentos de Reforma Agrária na própria Baixada.

Pode-se dizer que o Projeto Campo Cidade se Dando as Mãos é um braço da Rede Ecológica, enquanto movimento social que visa fomentar o consumo ético, solidário e ecológico, fortalecendo laços de solidariedade entre consumidores e famílias agricultoras.

A baixada fluminense é uma região especialmente propicia neste sentido, já que envolve uma população muito grande, com presença de agricultores agroecologicos e de agricultura urbana, que tem muita dificuldade no seu escoamento. do ponto de vista de segurança alimentar é uma população com pouquissimos canais de alimentação mais saudável.

 

O Programa tem duas frentes de atuação:

– Fomentar e apoiar a criação de grupos populares de consumidores éticos, ecológicos e solidários.

– Identificar famílias produtoras agroecológicas ou interessadas em fazer a transição e apoiar o fortalecimento de sua produção e a venda direta a consumidores.

 

Em 2016 a Rede Ecológica completou 15 anos e envolvia aproximadamente 220 famílias consumidoras, chegando ao que se considerava o seu limite de tamanho. Surgem assim propostas e iniciativas para a sua regionalização, buscando a criação de novos grupos de consumo autônomos e descentralizados, como uma maneira de fazer crescer o movimento. Assim, se poderia multiplicar o número de consumidores éticos, solidários e ecológicos, sem crescer em escala, mantendo estruturas menores e mais participativas.

A partir de 2017, o Programa, tendo arrecadado um fundo de aproximadamente rs 8.000,00?, parcialmente oriundo a partir de fundo existente na Rede, criado a partir da arrecadação de 3% em cada compra. Há ainda um sistema permanente de arrecadação para o Programa, através de cotas mensais ao se realizarem as compras de secos. Isto possibilitou o apoio a realização de várias ações do Programa Campo e cidade dando as mãos (arcando com custos de gasolina, equipamentos, questões de infraestrutura). Entretanto a base sempre é a colaboração voluntária de seus associados para todas estas ações.

O Programa está atuando em algumas frentes, apresentadas a seguir:

  1.  Vivências Rurais
  2. Comissão de cozinha
  3. Entrevista com agricultores
  4. Criação de um coletivo de consumo
  5. Descoberta do CAC
  6. Filmagens das atividades

1. Vivências Rurais: A partir da iniciativa de um associado familiarizado com o processo produtivo e interessado em aprofundá-lo, foi adotada a proposta de vivencias rurais, que envolveu a imersão, por alguns dias, em um sítio de agricultor(a). Isto possibilitou, por um lado, o diagnóstico mais completo das características, potencialidades e desafios da produção daquele sítio, aprofundou a relação com a família de agricultores e familiariza maior número de consumidores com o processo produtivo. O último dia da vivência (domingo) ocorreu um mutirão ao qual vinham aproximadamente 15 pessoas de diferentes regiões da cidade para compartilhar este momento.

Vivência Rural no sítio da Leodicéa (Magé, 2017)

Importante destacarmos as palavras do idealizador das vivências rurais, Lucio Lambert:
“As Vivencias Rurais (VRs) tal como foram idealizadas tiveram como objetivo diagnosticar a realidade dos agricultores que se propõem a recebe-las. O fato é que estamos perdendo nossos agricultores que estão deixando a terra, o cultivo, a produção o solo e se dedicando cada vez mais ao comércio, à intermediação,o que é bastante compreensível devido ao assédio do consumismo urbano e à pressão que sofrem para pagar as contas,para comprar comida e para pagar os custos impostos pelo sistema.
Os que permanecem na produção estão sendo pressionados a ceder aos apelos da monocultura convencional, que ilude com a maior facilidade do manejo e resultados mais imediatos, porém catastróficos, em todos os sentidos, à longo prazo.
Neste sentido, as Vivências Rurais podem contribuir de alguma forma para ajudar o agricultor, caso deseje e se sinta inspirado, a resistir a este assédio levando ajuda e tecnologias ancestrais que foram sendo apagadas e que possibilitam trilhar um caminho de resistência, o biopoder do agricultor, desenvolvendo a saúde do solo, no cultivo da terra, na agricultura de fato, investindo no seu maior patrimônio: o solo da propriedade.
No nosso entender só assim ele poderá construir a autossuficiência e a consequente fartura Natureza e poderá se motivar e compreender, pela própria experiência, que este é o caminho para se libertar da escassez imposta pelo sistema urbano que o atrai, pelos negócios e o comércio puro e simples.”

Uma primeira etapa das vivencias rurais foi voltada para encontrar um sitio, que se interessasse ou cumprisse expectativas mínimas para a imersão (infraestrutura para pernoite principalmente).

A vivência rural em 2017 se voltou para o sitio de uma agricultora, realizando 3 vivências, que produziram um acúmulo no sentido de mostrar possíveis caminhos para esta agricultora.

2. Comissão de cozinha: A Rede Ecológica se destaca por ter muitos integrantes interessados em alimentação e culinária para realizar oficinas de cozinha na baixada, um antigo sonho que, em 2017, virou realidade com a realização da Oficina de Cozinha no Centro de Atividades Comunitárias (CAC), em São João de Meriti.

3. Entrevistas com agricultores: Foram realizadas, em 2017, sete entrevistas com agricultores de dois assentamentos da Baixada Fluminense. O diagnóstico visou o levantamento de agricultores mais organizados, condições de suas áreas de plantio (sítios) e suas realidades produtiva.

4. Criação de um coletivo de consumo: Foi criado um novo núcleo da Rede Ecológica na Baixada, em Duque de Caxias, onde houve uma tentativa frustrada de funda um coletivo de consumo anteriormente. Somente em 2017, foi firmado um grupo popular com opção de uma cesta agroecológica básica de produtos secos. O funcionamento autônomo aconteceu desde o inicio para compra de frescos, sendo feitos os contatos e buscas necessários.

5. A descoberta do Centro de Atividades comunitárias (CAC): 

Visita ao CAC (São João de Meriti, 2016)

A  partir de um pedido de apoio para um quintal, a Rede Ecológica se aproximou de uma escola com características bastante especiais, na sua metodologia e na capacidade de manter sua propostas ao longo de 30 anos, numa região conturbada. O quintal é uma área de 2000 m² que tem muitas frutíferas e um potencial para plantio muito grande. A perspectiva de influenciar os trabalhos dos professores, e a cultura alimentar de alunos e pais, foi novo estimulo para a(o)s associada(o)s da Rede Ecológica. Assim, a comissão de cozinha encontrou seu espaço ideal em uma cozinha comunitária desativada, e um associado da Rede Ecológica. que mora na região, assumiu os cuidados com o quintal. A organização de mutirões acontecem para fortalecer o quintal, e o trabalho de integração com o CAC.

 

 

 

 

6. Filmagem das atividades: Foi finalizado um filme sobre a oficina de cozinha (pode ser visto acima) e, a partir das filmagens, foram produzidos filmes com a temática do programa e disponibilizado no canal da Rede Ecológica. A equipe que está a frente do Programa Campo e cidade dando as mãos é bastante grande e diversificada.